quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um outro ponto de vista sobre a questão das Coreias


         Há pouco tempo, algo atraía a atenção de todos que se mantiveram em contato com as notícias do dia-a-dia, fosse nos jornais, na televisão ou através da Internet. Era a questão dos impasses que chegaram a adquirir contornos militares na Península da Coreia, inclusive abrangendo as duas maiores potências econômicas do mundo contemporâneo, Estados Unidos e China, em um considerado iminente conflito armado. A certeza de que uma Terceira Guerra Mundial em breve bateria na porta da humanidade parecia cada vez mais concreta, à medida que as tensões fronteiriças e diplomáticas aumentavam.
   
        Os verdadeiros motivos das tensões ainda são em grande parte desconhecidos por muitas pessoas. Existem inúmeros pontos que podem ser considerados determinantes e catalisadores de tais desavenças. Pontos estes que datam desde a separação das duas Coreias e do conflito entre elas durante o período da Guerra Fria, o qual foi "resolvido" com um armistício que, por sua vez, pode ser considerado até mesmo temporário. É notável, no entanto, que o fator que possa ser considerado o principal desencadeador de toda essa crise tenha sido a realização de exercícios militares pelas tropas estadunidenses e sul-coreanas no território da Coreia do Sul. Esse acontecimento foi tomado como uma provocação e até mesmo como uma agressão pelas autoridades e pelo povo norte-coreanos, pois teria havido o descumprimento do parágrafo nº60 do Acordo de Armistício assinado em 1953 pelos dois países, que dizia que todas as tropas estrangeiras deveriam ser retiradas da Península, de modo a  estabelecer a manutenção da paz entre eles.
      
Povo e tropas norte-coreanas participam de ato de repúdio à agressão estrangeira, erguendo os punhos contra o imperialismo.
        Há que se considerar também o histórico que possui o governo dos Estados Unidos em sua política externa. No último século, os americanos intervieram com poderio bélico em aproximadamente 150 países. Isso mostra que o país, ao longo de sua história, esteve muito inclinado a possuir zonas de influência ao redor do globo, o que inclusive o favoreceria (e de fato o favorece) nos âmbitos político e econômico internacionais. Existem até mesmo hipóteses que veem a cultura das armas e da guerra norte-americana, assim como a posse de inimigos no cenário internacional, como sendo necessária para que o próprio povo estadunidense vise o estabelecimento de uma unidade em nome de uma "causa maior": o combate a esses inimigos de fora. Não seria surpresa se o episódio que envolveu as duas Coreias tivesse sido aproveitado como mais uma tentativa de expansão imperialista dos EUA. Ainda mais em tempos de crise financeira no Ocidente, tendo em vista que a guerra sempre foi um "negócio" altamente lucrativo para sua alta burguesia. A partir dessa análise, a reação norte-coreana pode ser considerada justa. Uma resistência firme e exemplar aos tentáculos do imperialismo.

Destino Manifesto em escala global: a ideologia antes usada para justificar a Marcha para o Oeste americana, assim como o genocídio de populações indígenas inteiras, hoje pode ser vista como uma analogia ou até mesmo um ponto de referência sobre a política externa do país.
         Outro alvo da discussão foi uma possível participação da China caso houvesse um conflito militar, que reuniria as duas maiores potências do mundo contemporâneo. Os desdobramentos que isso poderia causar na geopolítica internacional muito provavelmente levariam o homem a presenciar mais uma Guerra Mundial. No entanto, essa possibilidade é mais um produto do sensasionalismo midiático do que uma alternativa com reais chances de acontecimento. Primeiramente, as relações entre a China e a Coreia do Norte têm ficado cada vez mais enfraquecidas, talvez por conta do fim de grande parte do socialismo na primeira. Além disso, embora os dois países ainda tenham acordos de defesa mútua contra invasões estrangeiras, um atrito militar entre China e EUA teria proporções catastróficas. Certamente uma saída diplomática seria encontrada, ou então todo o resto do mundo pagaria por isso.

       O apelo para as ameaças, incluindo o uso de armamento nuclear, pode ser considerado, porém, a grande "faca de dois gumes" utilizada pela Coreia Popular. Talvez elas tenham sido inevitáveis, pois os países ocidentais, além de embargarem economicamente o país, usando como justicativa o desenvolvimento de arsenal atômico norte-coreano (uma medida, embora considerada perigosa, é legítima, uma vez que as potências ocidentais dispõem de tal armamento), não se mostravam dispostos a negociarem com ele pelo viés diplomático. No entanto, a ameaça de uma possível guerra nuclear foi motivo para apreensão e medo na comunidade internacional, o que ressaltou um caráter radical e fanático da Coreia do Norte, quando na verdade seu objetivo principal era garantir a soberania de seu povo ante as diversas agressões externas.

As armas nucleares foram inevitavelmente a carta na manga de Kim Jong-Un
        É importante atentar para o papel dos grandes veículos de comunicação, tanto os ocidentais como os orientais (os norte-coreanos, principalmente), tiveram na propagação dos acontecimentos. A mídia ocidental, a exemplo da brasileira, transferiu ao público uma imagem completamente demonizada, não só da Coreia Popular, como do próprio socialismo como um todo, atribuindo aspectos de fanatismo, de opressão e de ufanismo como sendo característicos de um regime socialista. Nesse caso, fica evidente que a base para isso é a escancarada orientação ideológica (e manipulação dela) que se faz presente na mídia dos países do Ocidente. Já o papel desempenhado pelos veículos de comunicação norte-coreanos também foi de grande importância para o desenrolar da crise, uma vez que eles foram usados como ferramenta de negociação pelo governo, ao serem os responsáveis pela transmissão dos aparentes posicionamentos do país, o que incluiu ameaças de guerra, repúdios ao imperialismo e provocações aos EUA e à Coreia do Sul.
         
        Tudo indica que, após os governos ocidentais finalmente cederem às negociações diplomáticas exigidas pela Coreia Popular, não será desta vez que, nem as Coreias, nem os outros países envolvidos entrarão em um conflito armado. Talvez isso tenha sido apenas um adiamento de algo inevitável no futuro, mas cabe ao tempo dizer isso. Por ora, há que se celebrar a vitória da soberania dos povos, da diplomacia internacional e, mais do que isso, da humanidade como um todo. A única guerra em que todos ganham é aquela que é evitada.

Texto de Thiago Menezes e Pedro Graça

3 comentários:

  1. Todo mundo pode acreditar que tem razão, e que a sua causa é a mais justa, é muito fácil isso. O USA tem a pretensão de ser o árbitro e o carrasco do mundo. Quem mais quer a vaga?

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  2. Bom texto, é peculiar quando vem à tona um assunto antigo e semi-esquecido como a questão das coréias e que ainda tem potencial pra causar essa tensão no mundo atual.

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  3. Bem maneiro o texto cara!
    Gostaria apenas de destacar que,se por um lado o regime Norte-Coreano não é o demônio que pintam, também não pode ser reconhecido como exemplo de resistência legítima ao imperialismo. Isso é ainda mais fundamental se, como fica claro pelo tema do blog e pela conclusão do post, se objetiva um caminho humanista.
    Não vejo melhor palavra para defini-lo do que incógnita. Qualquer fonte, tanto revolucionária quanto conservadora, para análises sobre a tão fechada Coreia do Norte é no mínimo parcial e duvidosa.

    Um abraço,
    José Ribas

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