quarta-feira, 15 de maio de 2013

Venezuela pré e pós-Chávez


(1)
A morte de Hugo Cháves, ocorrida no último mês de março, foi motivo para comoção popular em diversos países, para celebração discreta (e indiscreta) por parte de alguns governos, elites ou veículos midiáticos e também para as discussões acerca de sua gestão como presidente da República Bolivariana da Venezuela serem trazidas aos holofotes, bem como as especulações sobre o futuro do país e do chavismo. Diante dessa questão, algumas observações principais precisam ser ressaltadas, para que se tenha uma análise mais imparcial e condizente com a realidade sobre seu mandato.



- O progresso:

Negar que o governo de Chávez frente à Venezuela trouxe avanços em inúmeros setores é fechar os olhos para a história do país e para sua própria realidade atual. Até 1998, a Venezuela encontrava-se em crise econômica, com altos índices de inflação, além da manutenção de grandes disparidades sociais, com quase 50% da população vivendo na pobreza. A gestão chavista conseguiu controlar o aumento da inflação e fez com que o índice de pobreza caísse para aproximadamente 20%, sendo notavelmente direcionada a amparar aqueles que pertencem a classes menos favorecidas e fazendo da Venezuela o país menos desigual da América Latina, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Investiu-se muito em educação e em programas sociais, o que acarretou em uma brusca alteração nos quadros tanto de alfabetizados como de pessoas que viviam abaixo da linha da pobreza, que antes possuíam elevados índices e passaram a apresentar quedas cada vez mais significativas desde a subida do Comandante ao poder. O crescimento da indústria estatal também é um ponto positivo a ser destacado, que possui suas bases principalmente na crescente exploração petrolífera do país, visto que é membro da OPEP e possui algumas das maiores jazidas de petróleo do mundo, e também na "ruptura" com a influência estadunidense sobre a América Latina, sendo que essa é uma característica comum aos países da chamada "Onda Rosa" latinoamericana, que por sua vez consiste em nações nas quais líderes de esquerda recentemente assumiram o poder na América do Sul, rejeitando (em intensidades que variam entre tais países) a submissão aos interesses dos EUA em suas políticas interna e externa.

- O bolivarianismo:

(2)
Muitas vezes em seus discursos, Chávez adotava referências de antigos líderes e personagens famosos da história sulamericana, com destaque para Simón Bolívar e Tupac Amaru, transmitindo uma mensagem que preconiza a união da América Latina, de modo a formar uma única "nação" fundamentada na cooperação entre os povos e fortalecida no cenário internacional. A defesa dessa unidade econômica, política e territorial deriva do panamericanismo do já citado Bolívar, um dos principais heróis da independência da América Espanhola, e sua justificativa consiste exatamente em evitar que ainda predomine a fragmentação do continente em vários países pequenos, o que os torna vulneráveis a quaisquer atuações externas ou mesmo dependentes delas.

- Os pontos negativos:

Ao passo que o mandato de Chávez conseguiu por um lado promover a justiça social e melhorar a situação econômica do país, fatores como a permanência de uma taxa de inflação realtivamente alta e o crescimento dos índices de violência servem para demonstrar que sua gestão também apresentou falhas, podendo elas serem consideradas circunstanciais ou não. A grande preocupação do presidente em demonstrar a "ruptura" com a influência estadunidense também constitui um certo equívoco de sua parte, uma vez que isso o fez tomar medidas que fossem consideradas contraditórias do ponto de vista ideológico, como por exemplo seu apoio a governos que eram facilmente caracterizados como ditatoriais e opressores apenas pelo fato de serem antagônicos aos EUA em suas políticas externas. Além disso, ainda existem as acusações que, embora não possam ser simplesmente ignoradas, são mais discutíveis pelo fato de serem provenientes de fontes duvidosas e de serem circundadas de interesses não tão ocultos assim, como a supressão da democracia e dos meios de comunicação por parte do governo venezuelano.

- O papel da mídia e as acusações infundadas:

A mídia é definitivamente a grande arma do século XXI e é impossível falar da gestão de Chávez no comando da Venezuela sem tocar no assunto. Muitas acusações foram e ainda são levantadas contra o falecido presidente, muitas vezes infundadas e, mais uma vez, produtos da manipulação ideológica que exercem os principais veículos midiáticos no Ocidente. Não faltam revistas e programas de telejornalismo para rotularem o chavismo como sendo uma ditadura repressiva e supressora dos meios comunicativos, quando a realidade mostra o contrário em muitos aspectos. Enquanto Chávez é acusado de estatizar completamente a comunicação no país, supostamente em prol da manutenção da ideologia pregada por seu governo, uma fatia de 95% desse setor pertence à iniciativa privada.
http://operamundi.uol.com.br/media/images/capas%20jornais%20venezuela%281%29.jpg
Endereço da imagem: http://operamundi.uol.com.br/media/images/capas%20jornais%20venezuela(1).jpg
Isso mostra que a deturpação dos fatos é algo extremamente corriqueiro e muitas vezes escancarado no âmbito da informação nos dias atuais. Vale ressaltar também que qualquer controle que o ex-presidente pudesse ter sobre os meios de comunicação seria absolutamente justificável, pelo fato destes representarem uma ferramenta de oposição sustentada principalmente pela desonestidade e manipulação de verdades, tendo participado inclusive de um movimento golpista contra ele no ano de 2002, no qual ele chegou a ser deposto, mas logo em seguida foi restituído ao cargo pelo próprio povo venezuelano.

- O embaçado futuro

A apertada vitória de Nicolás Maduro, sucessor indicado por Chávez pouco antes de sua morte, sobre Henrique Capriles permite a continuidade do PSUV no poder da Venezuela. O evidente enfraquecimento, como mostra o resultado das eleições (50,66% dos votos válidos para Maduro e aproximadamente 49% para o candidato da oposição), pode ser explicado por muitas razões: o sentimento de traição, com o qual muitos acreditam que o ex-presidente manipulou o povo, já prevendo sua morte e mesmo assim se candidatando antecipadamente, ou mesmo acusando-o de ter dado ordens ocultando sua verdadeira data de morte; uma certa desconfiança por parte da população em relação à capacidade de Maduro manter o modelo de governo antes implementado; o descontentamento de muitos, geralmente ligados aos setores mais privilegiados da sociedade, em relação ao o governo de caráter mais voltado às classes menos elevadas promovido por Chávez; o fato de muito do próprio sentido do chavismo ter se concentrado na figura do falecido líder; o fortalecimento de uma classe média à qual hoje já não interessa mais um governo rumando o "socialismo do século XXI", termo cunhado pelo próprio ex-presidente. Dessa forma, o chavismo possui o grande desafio de superar a crescente oposição que, após a derrota no processo eleitoral, parece recorrer à realização de tumultos para desestabilizar a situação política no país. Desse modo, a saída que o recém-eleito governante Nicolás Maduro parece ter é aprofundar e radicalizar a democracia entre o povo, dando maior poder aos conselhos populares e fechando o cerco contra as poderosas oligarquias que ainda praticamente detêm as rédeas do país, podendo assim suprimir em certa medida as heranças negativas da gestão de Hugo Chávez, além de não deixar de aproveitar as positivas.
http://brasilcomchavez.files.wordpress.com/2013/04/caracas-con-maduro.jpg



Fontes:
1: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/28322/meios+de+comunicacao+opositores+ainda+sao+maioria+11+anos+apos+golpe+contra+chavez.shtml
2: http://abcnews.go.com/International/story?id=82924&page=1#.UZQS4bU72bM
3: http://www.pnud.org.br/arquivos/rdh-2013.pdf
4: http://www.valor.com.br/internacional/3117718/inflacao-na-venezuela-fica-em-294-aa-em-abril5: http://www.americalatina.org.br/internas.php?noticias=&interna=8061

Endereço das imagens:
1: http://carodinheiro.blogfolha.uol.com.br/2013/03/05/governo-chavez-chega-ao-fim/
2: http://cardealnordeste.files.wordpress.com/2013/03/chavezbolivarexhumebonna.jpeg?w=350&h=375

Autores: Pedro Graça e Thiago Menezes

Excelente documentário que expõe a questão das oligarquias midiáticas venezuelanas e o poder de manipulação que elas exercem, tendo como pano de fundo a tentativa de golpe contra Chávez em 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário